Mesmo com os avanços nas políticas de diversidade, a presença feminina no transporte de cargas pesadas ainda é bastante reduzida no Brasil. A maioria das empresas do setor ainda conta com um número muito pequeno, ou quase nulo, de motoristas mulheres em suas operações.
No entanto, estamos começando a viver um novo cenário. Iniciativas de capacitação, programas de inclusão e a pressão por práticas mais sustentáveis e igualitárias estão abrindo espaço para a mulher caminhoneira no mercado.
Para as empresas, essa mudança representa não apenas um avanço social, mas também uma oportunidade estratégica para elevar a eficiência operacional, reduzir custos e fortalecer práticas de ESG (ambiental, social e governança).
Cenário atual da mulher caminhoneira no Brasil
Não é novidade que o transporte de cargas sempre foi um setor dominado por homens, ainda assim, desde a década de 1960 já existiam mulheres ao volante de caminhões. Essas primeiras motoristas foram fundamentais para abrir espaço e provar que a presença feminina na operação é possível — e eficaz.
O que antes era um ambiente quase exclusivamente masculino, hoje começa a abrir espaço para mulheres. Alguns dados mostram essa mudança de forma clara: em março de 2024, o Brasil já contava com mais de 153,8 mil mulheres trabalhando como caminhoneiras, de acordo com levantamento divulgado pelo portal TCO Digital. Um destaque importante é o estado de São Paulo, onde mais de 128 mil dessas profissionais estão registradas.
A maioria dessas profissionais tem entre 30 e 50 anos, muitas são mães e chefes de família, e encontraram no volante uma forma de sustento, seja por influência de parentes ou por necessidade. A pesquisa “Realidade e desafios das caminhoneiras nas estradas”, realizada pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), revelou que 43,1% das mulheres caminhoneiras estão na profissão há menos de cinco anos, demonstrando uma tendência de crescimento recente na participação feminina no setor.
No entanto, desafios persistem. A mesma pesquisa apontou que 48,6% das caminhoneiras indicaram sentir-se inseguras nas estradas, destacando a necessidade de melhorias na infraestrutura e nas condições de trabalho.
Oportunidade estratégica para as empresas
Para empresas, a inclusão da mulher caminhoneira nas operações logísticas vai muito além da promoção da equidade de gênero; trata-se de uma estratégia inteligente com benefícios que irão otimizar performance e agregar valor à uma operação. Alguns desses benefícios já são percebidos na:
- Redução de custos e danos à frota
Empresas que incorporam a contratação de mulheres, relatam uma significativa redução no número de acidentes. Ainda segundo dados do Detran, motoristas mulheres tendem a ter uma postura mais cautelosa e disciplinada, o que resulta em menos danos aos veículos e menos gastos com reparos e manutenção.
- Melhoria na eficiência da gestão de frota
A inclusão de mulheres nas operações logísticas também tem mostrado um impacto positivo na gestão de frota. Motoristas mulheres têm sido associadas a um maior zelo com a conservação dos veículos e um cumprimento mais rigoroso das rotinas de manutenção preventiva.

- Fortalecimento da cultura de segurança
A presença da mulher caminhoneira tem sido um fator importante no fortalecimento de uma cultura organizacional focada na segurança. Empresas que promovem a inclusão de mulheres destacam a importância da observância das normas de segurança, o que ajuda a reduzir incidentes e otimiza a operação como um todo. Além disso, as motoristas mulheres frequentemente atuam como agentes de mudança, incentivando os colegas a seguirem práticas mais seguras e responsáveis.
- Melhoria da reputação e imagem institucional
Organizações que promovem a diversidade e a igualdade de gênero se destacam positivamente em um mercado cada vez mais preocupado com questões sociais e ambientais. Além disso, esse tipo de ação pode atrair clientes e parceiros que prezam pela responsabilidade social.
- Atração e retenção de talentos
A presença de mulheres caminhoneiras irá ampliar o pool de candidatos para vagas de motoristas, um setor que enfrenta uma grande escassez de profissionais qualificados. Além disso, políticas inclusivas contribuem para uma maior satisfação e lealdade dos funcionários, reduzindo a rotatividade e os custos relacionados a novos recrutamentos.
- Alinhamento com práticas de ESG
A promoção da igualdade de gênero é um critério cada vez mais considerado por investidores e clientes que exigem ações concretas para a construção de um ambiente de trabalho mais justo e igualitário.
Desafios estruturais ainda existem, mas podem ser solucionados
Embora a inclusão da mulher caminhoneira nas operações logísticas traga uma série de benefícios estratégicos, existem ainda desafios estruturais que dificultam a adoção plena dessa prática por parte das empresas do setor.
Esses obstáculos precisam ser superados de forma estratégica para que as empresas possam realmente aproveitar o potencial dessa força de trabalho. De acordo com levantamento realizado pelo SEST SENAT, os principais desafios enfrentados pelas mulheres caminhoneiras incluem:
- Falta de infraestrutura adequada nas rodovias (banheiros, segurança e pontos de apoio);
- Preconceito nas bases operacionais e nas transportadoras;
- Pouca visibilidade em campanhas de recrutamento.
Como superar esses desafios?
Empresas que desejam aproveitar o potencial da mulher caminhoneira precisam atuar de forma proativa, adotando práticas que ajudem a resolver os desafios estruturais mencionados. Algumas estratégias essenciais são:
- Adequação de escalas de trabalho
Desenvolver escalas de trabalho flexíveis e adaptadas às necessidades das motoristas mulheres, levando em consideração suas responsabilidades pessoais e as condições específicas da profissão é essencial para manter uma força de trabalho motivada e produtiva.
- Criação de ambientes inclusivos nas garagens, pátios e áreas de apoio
É crucial adaptar suas instalações para garantir que todos, independentemente de gênero, se sintam acolhidos e respeitados. Isso inclui a criação de espaços seguros e confortáveis para motoristas mulheres, com áreas de descanso, banheiros adequados e infraestrutura que atenda às necessidades específicas dessa população.
- Investimento em programas de formação e acolhimento
Parcerias com instituições como o SEST SENAT e o Movimento A Voz Delas são fundamentais para dar oportunidade profissional para mulheres caminhoneiras. Além de proporcionar a formação necessária, incluir programas de apoio emocional e psicológico, é essencial para criar uma rede de suporte para que as mulheres se sintam seguras e valorizadas no ambiente de trabalho.
Exemplos de empresas que já adotaram a estratégia
Cada vez mais empresas estão descobrindo que incluir a mulher caminhoneira em suas operações pode trazer benefícios reais. A TransJordano, por exemplo, desenvolveu em São Paulo um programa exclusivo para formar motoristas mulheres. Até agora, mais de 40 profissionais foram formadas e contratadas pela empresa. O resultado? Redução nos índices de acidentes e melhora no desempenho das entregas.
Outro bom exemplo é da PepsiCo, que criou o programa “Frota para Elas”, com foco em atrair, capacitar e reter mulheres na área de logística. A iniciativa já contratou 16 motoristas para sua frota, mostrando que o programa não fica só na teoria — ele gera impacto direto na inclusão e na operação.
Apostar na contratação de mulheres motoristas é uma forma inteligente de enfrentar um dos principais desafios do setor: a falta de profissionais qualificados. Ampliar as oportunidades para esse público é, ao mesmo tempo, uma resposta à escassez de mão de obra e um passo importante rumo a uma logística mais eficiente e diversa.
Mais do que inclusão, é eficiência com impacto real
Abrir espaço para a mulher caminhoneira não é apenas uma questão social. É uma resposta estratégica para as demandas atuais do transporte: mais segurança, menos custo, maior engajamento e uma reputação institucional fortalecida.
Em um setor onde cada quilômetro, cada acidente evitado e cada profissional qualificado fazem a diferença, empresas que investem na diversidade estão à frente da concorrência. A quebra do preconceito não é apenas uma evolução cultural — é uma oportunidade de negócio.
Se você quer acompanhar mais conteúdos como este, com estratégias, novidades e insights relevantes sobre logística e transporte, não deixe de assinar nossa newsletter. Estamos sempre trazendo discussões atuais, cases inspiradores e boas práticas do setor para quem quer estar um passo à frente.